sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Cirurgias de Obesidade é assunto muito sério!


Ontem li uma reportagem no jornal Folha de São Paulo que achei absurda e me deixou preocupadíssima.
“Advogada processa médico após cirurgia”. A advogada Daliana Kristel Gonçalves Camargo, 31 anos, está processando o médico Áureo de Paula (o mesmoque operou o apresentador Fausto Silva)
por problemas de saúde após ter passado por uma gastrectomia vertical com interposição de íleo, uma técnica cirúrgica desenvolvida para tratar diabetes tipo 2. Daliana, que foi submetida à intervenção em 2005, não tinha diabetes e queria apenas perder peso. Ela havia sido operada, pelo mesmo cirurgião, para colocação de um balão, mas não emagreceu. Segundo seu advogado, Marcelo Di Rezende, o médico disse que, com 100 kg, ela poderia passar por um procedimento que resolveria o problema. Então, ela engordou, passando de 76 kg para 95 kg. Pagou R$ 20 mil pelo procedimento. Os problemas surgiram após a cirurgia. Segundo o advogado, ela não conseguia comer e passou a vomitar várias vezes ao dia. Daliana teve uma úlcera perfurada e uma fístula (orifício) no estômago. Já passou por nove cirurgias e 17 microcirurgias, mas ainda não foi possível fechar a fístula. Há mais de dois anos ela não pode comer nada. "Ela se alimenta por via enteral [com sonda] ou parenteral [pela veia]", diz. Está aposentada por invalidez.
Infelizmente a cada dia que passa chego a conclusão que hoje as cirurgias de obesidade são realizadas não mais para resolver o problema de pacientes obesos mórbidos, passou a ser mais um tratamento contra qualquer tipo de obesidade.
Recentemente realizei um trabalho de conclusão de curso da minha pós-graduação, onde o tema era justamente este. Fiz uma revisão bibliográfica baseada em vários estudos realizados, que apontam “a obesidade como um problema de saúde pública, e atinge uma parcela relevante da população em todo o mundo. Sua principal característica é o acúmulo excessivo de tecido adiposo, e é considerada uma doença crônica de origem multifatorial. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a classificação da obesidade é feita pelo cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), que é a razão entre o peso corporal, em quilogramas, e a altura ao quadrado, em metros quadrados. Valores de IMC ≥ 30 kg/m2 são classificados como obesidade, valores de IMC ≥ 40 kg/m2 são classificados como obesidade mórbida ou grave. Os pacientes indicados ao tratamento da obesidade através de intervenção cirúrgica são aqueles que apresentam IMC ≥ 40 kg/m2, considerados como obesos graves, ou que apresentem IMC entre 35 e 40 kg/m2 associado a alguma doença, como um diabetes, hipertensão, etc. Os pacientes devem também apresentar um período de cinco anos de evolução da obesidade, fracasso nos tratamentos convencionais feitos por profissionais qualificados, ausência de contra-indicações para cirurgias de grande porte”.
Agora, comparem todas essas informações com as da notícia. Daliana, 31 anos, 76 Kg. É claro que apenas com esses dados é impossível avaliar o real estado nutricional dela, mas acredito que a cirurgia não era o tratamento mais indicado para eliminar o seu excesso de peso. Será que ela já havia esgotado todos os ouros tipos de tratamento convencionais e restou somente a cirurgia como solução??
As pessoas precisam ter consciência de que a cirurgia não é tão simples como fazer uma reeducação alimentar, praticar uma atividade física, é um procedimento invasivo, onde o paciente terá que passar por inúmeras adaptações nos seus hábitos alimentares, sem contar o risco da cirurgia, tempo de recuperação. No meu trabalho também destaquei “o paciente deve passar por acompanhamento de uma equipe multiprofissional (médico, nutricionista, psicólogo,...) antes e depois da cirurgia. O acompanhamento nutricional é importante para que o paciente obtenha resultados satisfatórios com o tratamento cirúrgico e uma perda de peso saudável, deve ser orientado sobre as mudanças que ocorrerão no seu hábito alimentar e preparado para que não ocorram complicações graves após a cirurgia”.
E outra coisa muito importante, a decisão se a pessoa tem ou não a necessidade de passar pelo procedimento cirúrgico deve ser feita de maneira muito consciente pela equipe de profissionais. Quando li a notícia, onde diz que o médico informou a paciente que se ela tivesse 100 Kg ela poderia passar pelo procedimento que resolveria o problema, e isso fez com que a paciente tomasse a atitude de ENGORDAR!!! É um absurdo!!! Quem é mais errado nessa história? O médico que não soube orientar a paciente como devia, ou a paciente que decidiu resolver o seu problema de excesso de peso de maneira mais “rápida”, diminuindo o tamanho do seu estômago?
A minha intenção aqui não é julgar ninguém, e sim alertar. Cirurgias de obesidade não podem continuar sendo encaradas como um tratamento simples para eliminar o excesso de peso. A pessoa deve procurar orientação e, se por acaso não se enquadrar nos quesitos para realização da cirurgia, por favor, não cometer atos como os de Daliana. A perda de peso poderá até ser rápida, mas pode-se também perder a chance de ter uma vida saudável, sem complicações e seqüelas, que podem levar a invalidez.
Por outro lado, a equipe deve ter cuidado ao orientar esse paciente, fazer a orientação de maneira clara, consciente, verdadeira, não pensando apenas na realização e no dinheiro recebido por mais um procedimento.

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